Tarantino's Mind

segunda-feira, 27 de junho de 2011
Curta que traz Selton Melo e Seu Jorge num jogo de personagens de filmes do Tarantino. A conversa numa mesa de bar faz comparações dos filmes. Um roteiro genial.

sábado, 25 de junho de 2011

À primeira vista, o nome do CD parece piada - e há uma inegável dose de humor ali, sim. Mas "Hits do underground", de Miranda Kassin e André Frateschi, é mais do que uma contradição engraçadinha. Em primeiro lugar, porque o título efetivamente cumpre o que promete, ou seja, uma compilação de canções que tiveram alguma representatividade no circuito alternativo brasileiro (umas mais, outras menos) nos últimos anos. E, mais do que isso, o enunciado sintetiza com precisão esta era segmentada - pela proliferação de gravadoras independentes com focos específicos, pela mudança que a internet (MP3, redes sociais) provocou na relação dos fãs entre si e com os artistas - na qual cada nicho tem suas "mais tocadas".
 
Óbvio em segmentos como o indie rock, o fenômeno mundial abarca também gêneros tradicionais, como a escola clássica da MPB e o samba. O compositor José Miguel Wisnik - que nesta década lançou um CD com faixas como "Baião de quatro toques" e "Assum branco", que, apesar de não terem alcançado as massas, tiveram impacto sobre um determinado público (regravações e releituras ao vivo por artistas como Gal Costa, Mônica Salmaso e Djavan indicam isso), transformando-se num exemplo perfeito desta era - comenta um dos efeitos dessa nova configuração.

- Há pouco tempo recebi uma lista que trazia, ano a ano, as músicas mais tocadas nas últimas décadas. Vim acompanhando, reconhecendo artistas e canções, mas chega um momento em que não conheço mais nada. É um reflexo dessa pulverização, a lista passa a representar apenas determinados segmentos - avalia o compositor, que indica que o próprio nome de seu disco (o ambíguo "Pérolas aos poucos") carrega num de seus sentidos uma referência à existência desses nichos: - Minha música circula de maneiras que eu mesmo não sei quais são. Chego a lugares diferentes do Brasil e vejo pessoas que sabem as letras. São redes que, para artistas que não estão nos meios de massa, têm um grande alcance, uma capilaridade.

Compositor de sucessos de um tempo em que eles ultrapassavam muros de nichos e atingiam públicos dos mais diferentes perfis ("Portela na avenida" e "Poder da criação" são dois exemplos entre muitos), Paulo César Pinheiro é autor de uma canção que, nessa lógica do mundo pós-internet, tem peso de clássico para o público específico do samba. Trata-se de "Nomes de favela", lançada em 2003 pela Biscoito Fino (uma dessas gravadoras segmentadas surgidas na última década).

- Os meios mudaram. E como as rádios e as gravadoras passaram a dar espaço para um único tipo de música, os artistas migraram para outros espaços, o computador. Democratizou, enfim - defende Pinheiro. - Os artistas conseguem gravar e o público consegue chegar à música de que gosta, inclusive a coisas fora de catálogo, que no passado eram inacessíveis e hoje estão a uma clicada de distância.
Gabriel Thomaz, vocalista da banda de rock Autoramas (com alguns "hits do underground" em seus 13 anos de carreira, como "Você sabe" e "Fale mal de mim"), também celebra a democratização que produz nichos.
- Você pode escolher aceitar o que é enfiado por sua goela abaixo ou ir atrás do que gosta. Isso é muito legal. Porque antes, se o sucesso era lambada, você tinha que aturar. Hoje todas as capitais têm festas segmentadas - diz Gabriel, que atribui ao mercado, e não a questões musicais, a dificuldade de surgimento de hits que rompam barreiras. - "Aquela", que gravei com o Little Quail, era um hit underground. Mas quando os Raimundos gravaram, vendeu demais. É só o público ter acesso.

No CD "Hits do underground", o casal Miranda Kassin e André Frateschi (com produção de Plinio Profeta) recorta um grupo específico - artistas da geração BR-00 (Os Mulheres Negras, da década de 90, são a única exceção), de todo o país, mas cujo trabalho circula pelos arredores da paulistana Rua Augusta, em palcos como o Studio SP. Estão lá Cérebro Eletrônico ("Dê"), Wado ("Fita bruta"), Rubinho Jacobina ("Artista é o caralho"), Curumin ("Magrela fever") e Mombojó ("Deixe-se acreditar"). Músicos que, diferenças estéticas à parte, trazem pontos de contato, afirma André:

- O barateamento da produção de um disco, o surgimento de novos espaços para mostrar sua música, o público que aprendeu a se informar por outras fontes que não a grande mídia, tudo isso fez esses artistas arregaçarem as mangas - diz André. - A identidade vem dessa forma de produção.

Intenção de fazer um CD pop

Curiosamente, o conceito do CD - sugestão de Plinio e de Alê Youssef, sócio do Studio SP - traz a ambição de fazer essas músicas romperem as fronteiras de seu segmento de origem e lançá-las para o grande público ("Tivemos a intenção deliberada de fazer um disco pop", resume o cantor). Um desejo que acabou por lançar luz sobre o valor das canções - letra e música - em si, que muitas vezes passava batido sob a riqueza de texturas dos arranjos originais.

A abordagem da dupla bebe nas referências que os dois trazem de trabalhos anteriores. Ambos fazem sucesso em São Paulo com shows de covers: ele toca David Bowie e tem um projeto cantando Tom Waits com Cida Moreira; ela faz um tributo a Amy Winehouse e a divas do soul. Partindo dessas influências, um dos maiores desafios foi cantar em português.

- O inglês permite vibratos que em português soam cafonas - explica Miranda. - E no CD lidamos com uma tradição de canção que não é a nossa. Não passei anos ouvindo Chico Buarque e Tom Jobim.

- Tendo a pensar que não teremos o "Inútil" dos anos 2000 - diz André. - Sinto, porque cresci com isso. Mas não sei se será ruim, não sei como um moleque que hoje tem 15 anos vai lidar com a inexistência desses hinos de geração.

Fonte: globo.com
 
A versão de "Dê" da Banda "Cérebro Eletrônico"

A coruja e o coração

domingo, 19 de junho de 2011
Tiê esteve muito presente no meu player no ano de 2009, logo que lançou o disco "Sweet Jardim", adorei a voz calma e o tom melancólico de algumas canções. Por um tempo ela apareceu apenas esporádicamente entre as músicas que ouço, e agora encontrei o novo disco que ela lançou. "A coruja e o coração", a doçura da voz, desta vez acompanhada de bandolim e uns toques diferentes, mas certamente inconfundível.

Além das músicas autorais, Tiê fez uma versão de "Só sei dançar com você" da Tulipa Ruiz, que está ficando muito popular também, já que suas músicas estão tocando na MTV. A supresa fica por conta de uma inversão de papéis, no lugar de uma banda de forró de plástico acabar com uma música fazendo uma versão brega, Tiê deixou a música "Você não vale nada, mas eu gosto de você", de Calcinha Preta, "ouvível". Transformou em arte um lixo musical. Só Tiê mesmo.

A paulistana Tiê começa a cantar o disco "O Coração e a Coruja" em voz duplicada, como se existissem duas Tiês. "Na Varanda de Liz" faz referência à sua filha de 1 ano e inicia o segundo álbum em tempo de aconchego. A suavidade persiste, mas a sonoridade não repete a do independente "Sweet Jardim", de 2009. A primeira impressão em relação à tímida e introvertida estreia, é a de que Tiê encorpou.


A impressão se confirma a cada nova audição, e não é por menos. Entre os primeiros piados e os de agora, há uma gravadora multinacional (Warner) e a produção tarimbada de Plínio Profeta. O bicho-de-sete-cabeças do "mercado" às vezes faz bem aos indies, nestes tempos pós-derrocada da indústria, e esse parece ser o caso.


O que há aqui, acima de tudo, é uma adaptação geral de tom. Tiê veio com a onda folk subtropical que nasceu em Los Hermanos e virou efeito-manada após Mallu Magalhães. Paga o preço de pertencer à cena paulistana, onde nove em cada dez novos movimentos se sustentam em plataformas do "não" e do culto ao deprê à la rio Tietê. "Só eu sei/ o que é melhor pra mim/ às vezes é mais saudável chegar ao sim", ela afirma, noutra direção, em "Piscar o Olho", uma simpática e sorridente canção sobre... o final de um romance.

Inspirado nos pantanais norte-americanos, mas engrossado por caipirices de São Paulo e do Mato Grosso, o folk subtropical não abandonou de repente a música de Tiê. O que há é uma ampliação de horizonte, e o sol ameaça brilhar lá no final. Plínio Profeta toca banjo, cellos são acrescentados aqui e ali, Marcelo Jeneci traz sua sanfona cabocla (em "Só Sei Dançar com Você", de Tulipa Ruiz), Tulipa e Thiago Pethit fazem coro em pique de "Hits do Underground" (como diriam Miranda Kassin e André Frateschi). Sim, a música de Tiê está encorpada.

O texto do release do disco chama de "exótica" (por quê?) a releitura passarinha de "Você Não Vale Nada", do forrozeiro Dorgival Dantas, um sucesso pós-industrial maciço (e "brega", segundo o release) na interpretação grupo Calcinha Preta. Não há como não soarem deliciosos os versos "você não vale nada, mas eu gosto de você", mas Tiê segue a estratégia desgastada de fazer apropriação supostamente cool daquilo que não é nem quer ser cool. O violão flamenco, aciganado, é uma graça, mas não haverá quem consiga desabrasileirar Dorgival, nem Tiê - ainda bem.

Noves fora, o barquinho navega bem em "A Coruja e o Coração", mais para Tiê que para Tietê. Fortalecida e nutrida pela ponte indie-indústria, ela deixa acontecer o que talvez (tomara) aconteça com Mallu Magalhães quando ela adultescer. O temor de parecer o que é - caipira - e o esconderijo por trás da caipirice "chique" das terras de Bob Dylan é compartilhado por Tiê com Jeneci, Tulipa, Hélio Flanders e seu Vanguart, Céu, Thiago Pethit, Pedro Granato etc. etc. etc. Mas há de se dissipar, já está se dissipando. 


Site oficial: http://sweetjardim.wordpress.com
Myspace: http://www.myspace.com/tiemusica
Para comprar o CD: Clique aqui
Download: A Coruja e o Coração  
Entrevista e trechos de músicas:


Sweet Jardim (2009):





Kim Richey -Jack and Jill

sexta-feira, 17 de junho de 2011
She wore that dress like it was a saturday,
pretty as a summer rose
picked in the morning

He held her hand like it was a mystery
one he couldn't quite believe
was walking with him


they were high up on a hill
with something to say and daylight to kill
time slipped away the way that it will


around and around dancing round the question posed
pick a coin and watch it roll
down into the wishing well


two steps unset there goes another day
another chance to give away
secrets they keep to themselves


they were high up on a hill
something to say the daylight to kill
time slipped away the way that it will


darkness falls without a sound
they come tumbling down
tumbling after
tumbling after


she wore that dress like it was a saturday
pretty as a summer rose
picked in the morning


He held her hand like it was a mystery
one he couldn't quite believe
was walking with him


they were high up on a hill
something to say the daylight to kill
time slipped away the way that it will

Crepúsculo dos deuses (Sunset Boulevard)


*Film noir é um estilo de filme primariamente associado a filmes policiais, que retrata seus personagens principais num mundo cínico e antipático. O Film noir é derivado dos romances de suspense da época da Grande Depressão (muitos filmes noir foram adaptados de romances policiais do período), e do estilo visual dos filmes de terror da década de 1930. Os primeiros Films noirs apareceram no começo da década de 1940. Os "Noirs" foram historicamente filmados em preto-e-branco e eram caracterizados pelo alto contraste, com raízes na cinematografia característica do expressionismo alemão.
O termo film noir (do francês, filme preto) foi atribuído pela primeira vez a um filme pelo crítico francês Nino Frank em 1946. O termo era desconhecido dos diretores e atores enquanto eles criavam os films noirs clássicos. A expressão foi definida posteriormente por historiadores do cinema e críticos. Muitos dos criadores de film noir revelaram mais tarde que não sabiam, naquela época, que haviam criado um tipo distinto de filme.
*Fonte: Wikipédia
Abaixo um artigo que escrevi sobre um filme que gosto muito do cinema noir: Crepúsculo dos Deuses.


Crepúsculo dos deuses: Esquecimento e insanidade
Crepúsculo dos deuses, co-escrito e dirigido por Billy Wilder é lançado no ano de 1950. O filme em preto-e-branco se inicia com um ângulo não-convencional: na tela estão simultaneamente: um corpo em uma piscina e os fotógrafos que registravam a cena. Joe Gillisinterpretado por William Holden, um defunto-narrador, conta, em flashback, seus últimos seis meses de vida, mostra os bastidores do cinema hollywoodiano e como e porque fora parar naquela piscina.

Com a narração em voz off , o filme faz uma crítica metalinguística   ao cinema de Hollywood, de estrelas decadentes à jovens em busca do estrelato. Joe é um argumentista desempregado que ainda tenta emplacar algum de seus roteiros nos conceituados estúdios Paramount. Criticado pela jovem revisora e aspirante a roteirista, Betty Schaefer, interpretada por Nancy Olson, ele tem mais uma de suas histórias recusadas.

Em meio a dívidas crescentes, o protagonista se vê prestes a perder seu carro exigido como pagamento de seu aluguel atrasado, depois de ser perseguido pelos cobradores, ele para acidentalmente em uma mansão na Sunset Boulevar, Hollywood. Pensando tratar-se de uma propriedade abandonada, ele guarda seu carro numa das garagens e adentra o lugar sendo surpreendido por uma voz, que o manda entrar, ele avista a dona daquelas palavras (Glória Swanson) e desconfiado direciona-se até a porta.

Recebido pelo mordomo Max, (que mais tarde descobriremos que é algo mais eu isso), vivido por Erich von Stroheim, Joe é orientado para entrar e encaminhar-se até o quarto da dona da casa sem receber maiores explicações. Descobre então que foi confundido e trata de explicar-se.  A senhora  o manda embora de sua casa. Ao fazer isso é reconhecida como sendo Norma Desmond uma atriz que já fora muito famosa na época do cinema mudo e que estava esquecida pelo cinema e público. O protagonista identifica-se como roteirista e Norma mostra um roteiro original, escrito por ela chamado “Salomé”, projeto para retornar as telas triunfantemente na concepção da própria, no qual pede a ajuda de Joe para ser roteirista.

A proposta é tentadora e Joe acaba por ceder, hospeda-se temporariamente num quarto acima da garagem. Os dias passam e Norma o prende cada vez mais em sua mansão, que reflete sua personalidade egocêntrica, cada parte da casa tem tanto dela quanto cada parte de seu corpo. A relação profissional deles aos poucos vai se transformando em outra coisa, a arrogante Norma torna-se cada vez mais obsessiva e passional. Joe apesar de contra a sua vontade se deixa manipular.

Numa noite em que consegue “escapar” da casa ele encontra Betty, agora namorada de um amigo seu, o flerte ocorre. Convidado pelo amigo para ficar alguns dias em sua casa, Joe é surpreendido com a notícia de que Norma tentara se matar, ele desiste de sair da mansão, mas passa a se encontrar com Betty para escrever a “história de amor sem nome”e recebe a proposta de fugir com ela. Enquanto Norma acha que seu roteiro será em breve transformado em filme e terá seu tão esperado retorno.

A atriz decadente percebe as noites que Joe passa fora de casa, começa a interceptar seus telefonemas e torna-se cada vez mais paranóica. 

O filme encaminha-se para o desfeche final, revelações feitas, reviravoltas e a personalidade duvidosa de Joe o levam a ser assassinado, fazendo com que o flashback termine. Apoiada por Max, também obcecado por ela, Norma estrela sua última cena totalmente fora de si, num mundo imaginário do qual ela já fez parte e que se recusa a deixar no passado, pronta para o “close up”, como ela mesma diz. Policiais, repórteres e fotógrafos deixam seus papéis para serem meros figurantes diante da loucura da estrela decadente.

O filme mantém sempre um tom obscuro. As cenas geralmente são à noite ou em interiores sombrios, típicas do cinema noir, mas mesmo quando as cenas ocorrem durante o dia, elas vem carregadas de tenebrosidade. O filme é narrado em primeira pessoa, e se Joe que é alvo da obsessão de Norma “aceita” isso em silêncio para ela, na narração ele descarrega seus comentários ácidos a respeito das situações, chegando as vezes ao cômico, outras ao humor negro.

Assassinato ou algum outro crime é o enredo principal dos filmes noirs, porém em “Crepúsculo dos deuses” o espectador chega em alguns momentos a esquecer que quem conta a história é um defunto, tal o grau de envolvimento com o enredo. Os atores principais estão presentes na maioria das cenas, e a trilha sonora conduz as emoções de quem assiste, o filme consegue amarrar bem as cenas sem se tornar cansativo ou maçante. O crime é praticamente ofuscado, lembrando-se apenas no final quando acaba o flash back. O protagonista se vê cada vez mais envolvido com aquela ex-atriz que vive interpretando mesmo com as pessoas do seu dia-a-dia e que se resumiam a Joe e o mordomo.
O senso de fatalismo está presente em Norma, onde verifica-se a presença da morte em vários instantes, como na morte de seu macaco, na tentativa de suicídio ou no assassinato que ocorre em sua piscina. Obcecada por Joe, que torna-se praticamente um brinquedo em suas mãos, ela revela o extremo da passionalidade quando este ameaça “soltar-se” das amarras que o prendem. O protagonista, nada romântico, se deixa manejar por Norma em troca de boa vida e dinheiro.
Crepúsculo dos deuses é um filme que fala sobre o cinema, alguns de seus personagens são reais como o diretor Cecil B. Demille que representa a si mesmo, assim como também é real a forma cruel como os artistas são esquecidos, sempre há uma nova “safra” e os que não se adaptam, não se destacam, são passados para trás. Norma não se adaptou ao cinema falado: “falam, falam, falam” como ela diz. Já o protagonista não se destaca, produzindo apenas roteiros medianos que renderam apenas filmes “B”.

Criticado por uns, aplaudido por outros na época, o fato é que “Crepúsculo dos deuses” mexe na “ferida” do cinema hollywoodiano, o fracasso e esquecimento de seus outrora astros e estrelas e a forma cruel como o cinema descarta as pessoas. Insanamente o filme termina com mais metalinguagem: Norma, no papel de Salomé, entre fotógrafos e policiais, em sua última cena, desce as escadas teatralmente, gesticulando com as mãos como quem convida o espectador a se perder de si e juntar-se a ela em sua loucura.
Marília Domingues é graduanda do curso de Comunicação Social Habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba.

Nas suas veias*

quarta-feira, 15 de junho de 2011


Conheci a música de Sabrina Samn há alguns anos, na época em que "Realidade Freak Show" se encaixava na minha realidade. Adolescente inconsequente que adota qualquer música de revolta como hino. Mas Sabrina provou ser muito mais que isso. Aagora ela está com um CD novo (nem tão novo) mais maduro, mas sem deixar de lado a crítica e a pegada rock característica impossível de não ser reconhecida.

Realidade Freakshow:
Sabrina Sanm lança ‘Voz No Escuro’

Seguindo a linha que pauta sua trajetória, em busca da fusão entre a música pesada e o pop, a cantora Sabrina Sanm volta à carga com “Voz No Escuro”. Mostrando amadurecimento, Sabrina desvia um pouco o olhar sobre si própria para escancarar as idas e vindas das relações humanas, expondo mazelas e virtudes do nosso dia-a-dia. Calejada pelas agruras do underground, solta o grito questionador por si só, como bem reza a cartilha do rock. Só que o escuro a que ela se refere no título já não é tão intenso, e a voz, antes gritada, rocker por definição, ganha uma rebuscada lapidação que flerta com novos caminhos. O aprendizado nunca termina, mas o processo de maturação é latente em “Voz No Escuro”. O disco foi concluído no início de 2009 e contou com as guitarras de Renato Pagliacci, o baixo de Patrick Laplan (Los Hermanos, Biquíni Cavadão), entre outros convidados.

Renato Pagliacci divide com Sabrina a autoria das 11 faixas, que dão um passo largo rumo ao pop no seu conceito mais básico: o de cativar o ouvinte sem fazer muito esforço. O caminho já vem sendo trilhado desde o auto intitulado álbum de estreia, do qual você já deve conhecer faixas como “Realidade Freak Show” e “Dessa Vez”, que tocaram nas rádios e tiveram clipes estrelando as programações dos principais programas especializados. “Não Vou Parar” foi outra que circulou bem, sobretudo na internet, onde o MySpace da moça já bateu as 130 mil audições. É lá que “Superstar”, que antecede “Voz No Escuro”, já foi escutada umas 20 mil vezes e chegou até à programação de algumas rádios.

A música puxa o disco tirando sarro das celebridades fake que têm invadido a cultura brasileira e mundial nos últimos tempos. Nela Sabrina abusa de um a voz debochada até então desconhecida. O som é pesado, mas com uma levada pop, menos veloz e que gruda no ouvido logo de cara. A moça também investe na ousadia em “Nas Suas Veias”, faixa de contornos dramáticos em que testa – com sucesso – o alcance de sua voz. Talvez nem ela própria saiba onde seu gogó privilegiado pode chegar e a bela performance nos versos “No grão de areia / Que você finge não ver / Nas suas veias / No seu ar” ainda está longe de ser o limite. Não por acaso a música foi escolhida para ganhar o primeiro videoclipe do CD.

Em “Bibelô” Sabrina diz não ter sido “formatada pra agradar”, mas, longe da personagem ela mostra exatamente o contrário.

Poucos artistas conseguem reunir num único trabalho composições que cativam o ouvinte logo de primeira, seja pela melodia, pelos arranjos ou nos vocais de timbre específico. Sabrina Sanm executa, em “Voz No Escuro”, um punhado de boas músicas que dificilmente deixarão a cabeça do ouvinte em paz – e isso é ótimo.

Renato também é o responsável pela esmerada produção do CD, num trabalho que ajuda a realçar algumas músicas que têm uma rara vocação para o pop. É o caso de “Porquê do Porquê”, que já tem no DNA o refrão facilmente cantarolável, numa levada minimalista realçada por barulhinhos, sussurros e outras artimanhas de estúdio. O peso herdado do nu-metal americano, aqui, ganha ares que poderiam mesmo ter salvado o gênero do desgaste. “No Seu Cenário” é outra apegada a levadas marcadas que devem fazer o público se divertir aos pulos no meio de um show, embora carregada de um tom sinistro.

Sabrina Sanm tem o rock correndo nas veias – cortesia de referências que vão de Metallica a Nirvana -, mas também sabe o valor de uma boa balada, artimanha utilizada por dez entre dez bandas de hard rock. É o caso de “Até Quando Respirar”, mais uma em que deixa a voz solta em busca do inesperado, numa letra que desafia o autoconhecimento de cada um, de cada maneira. Outra é “Medo Meu”, onde um check up nos sentimentos mais íntimos é pautado pela intensidade exigida por músicas que começam quase acústicas e ganham contornos de drama e emoção, sem se valer de disfarces ou soar piegas. A evolução das guitarras, pesadas a cada verso, sem sufocar os vocais densos, é de impressionar. Outro mérito da boa produção de Renato Pagliacci.

A realidade bem retratada por Sabrina só sai de cena na bela “ Em Algum Lugar ”, uma fábula fantasiosa que em poucos minutos é convertida num rock visceral, com os mesmos ingredientes que cativam sem muito esforço. Sim, é preciso não parar de sonhar. Assim como no álbum anterior, “Voz No Escuro” guarda no final uma faixa com as letras em inglês. É “Tell Me”, pesada e com um refrão poderoso, que soa como a cereja do bolo em um álbum bem alinhavado e que dá trela à auspiciosa estreia. Se o Brasil é o país das cantoras, Sabrina Sanm emerge do underground com a manha de fazer rock pesado, sim, mas de contornos bem palatáveis.


Marcos Bragatto, fevereiro de 2010



 

Contatos:
Myspace: http://www.myspace.com/sabrinasanm
Orkut: http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=2002048
Site: Site oficial: http://www.sabrinasanm.com
Download: Voz no Escuro



Chuva

terça-feira, 14 de junho de 2011
Chuva - por Marília Domingues
Vivo no quase, no nunca e no sempre. Quase, quase - e por um triz escapo. (A Cidade Sitiada)*
*Clarice Lispector

Livrai-me de tudo aquilo que for vazio de amor**

A beleza da simplicidade.
Tatiana* - Livrai-me de tudo aquilo que for vazio de amor** 
 


*Autora da foto
**Caio Fernando Abreu 
PS.: Citação feita pela autora da fotografia

Le Pacte Des Loups (O Pacto dos Lobos)

segunda-feira, 13 de junho de 2011


Download:Clique aqui
Legenda: Clique aqui

Sinopse

Em 1765, durante o reinado de Luís XV, uma misteriosa criatura traz pânico e terror em uma província rural da França. Chamada de a Besta de Gevaudan, ela atacava crianças e mulheres há meses e ninguém era capaz de prevenir suas ações, vê-la com nitidez ou sequer capturá-la. Desesperado em pôr um fim na situação, o rei decide então enviar ao local o renomado biólogo Gregóire de Fronsac (Samuel Le Bihan). Entretanto, Gregóire terá não apenas que lutar contra o monstro mas também contra a ignorância, a conspiração e a intolerância local, recebendo o apoio de duas mulheres, uma aristocrata e uma prostituta.

Crítica (feita na época do lançamento)


França, 1766. O Cavaleiro Grégoire de Fronsac (Le Bihan), acompanhado de Mani (Dacascos), um índio Mohawk, é enviado pelo rei Luis XV a Gévaudan, uma aldeia no interior sul do país, com o objetivo de capturar uma "besta" que assassina e mutila aldeões, principalmente mulheres e crianças. Para uns um lobo, para outros um monstro ou o próprio demônio, a besta parece conseguir sempre fugir sem ser vislumbrada pelos (poucos) sobreviventes (o tradutor anula o medo religioso, central à narrativa, traduzindo "bête" por "monstro").

Christophe Gans assinou a adaptação cinematográfica da manga "Crying Freeman" em 1995, dando o protagonismo a Mark Dacascos, num filme que misturava de modo satisfatório diversos gêneros populares do cinema asiático de acção, conseguindo ainda ser fiel à fonte original (exceto no que toca à componente mais marota). «Le Pacte des Loups» tem  Dacascos, mas relegado para o papel secundário do índio ocidentalizado que sabe kung fu, trazido do Canadá pelo herói da fita. Este é também um homem de muitos recursos: jardineiro, naturalista, curandeiro e intelectual, entre outras coisas úteis para a França do século XVIII.



pacte.jpg
Mani em combate à maneira tradicional Mohawk
Gans, mais uma vez, mistura géneros diferentes moldando-os num todo relativamente coerente. Sob um fundo de intriga política palaciana, característica de obras de época deste período, o realizador funde alguma acção ao estilo de Hong Kong – uma moda que vai perdurando no cinema ocidental, com melhores ou piores resultados –, com o filme de horror de monstros e ainda com muita da estética da banda desenhada, sem rejeitar mesmo certos elementos das histórias de super-heróis, vertente mais adulta (tal é notório nos combates próximos do final, mas a série de cartazes com cada uma das personagens principais também se insere nesse conceito). Como tudo isto pode funcionar permitindo ainda ao espectador acreditar na componente mais realista (político-social) é a pergunta que se pode colocar. A verdade é que funciona, ao contrário de muitos outros filmes recentes que se esforçam por integrar elementos a título de "referência" ou moda e, chegados ao fim, levam-nos a concluir que acabamos de ver uma salganhada sem pés nem cabeça, mas com muito bom aspecto.


É certo que Gans usa e abusa de determinados efeitos (como a alteração da velocidade da imagem durante as cenas de acção) e a montagem denota um pouco do tique americano de apresentar lutas corpo a corpo em três planos (geral, golpe, reacção) que, na prática, não deixa ver nada do que se passa. Como Jackie Chan diria, para um filme de acção funcionar é preciso que o realizador seja o coordenador de acção, o ator, o duplo e ainda monte ele próprio o filme (o que é também conveniente para ele, já que deve ser a única pessoa no mundo a preencher todas essas características num mesmo filme). Aqui não se pode dizer que a ação decepcione. Não chega aos pés dos bons clássicos de Hong Kong (mas nem os filmes modernos de HK o conseguem ou tentam), mas é relativamente fluida. Ajuda que Marc Dacascos seja um artista marcial e que Gans seja um fã do gênero e que tenha contratado Philip Kwok (Kuo Chui), de «Hard Boiled» (1992), «The Bride with White Hair» (1993) e, no ocidente, «Tomorrow Never Dies» (1996).


Poster
Tendo em conta a temática e as referidas modas, seria de esperar que «Le Pacte des Loups» se contentasse em ser uma caça-ao-monstro-com-artes-marciais de 90 minutos. Não é assim. Com as suas duas horas e vinte de duração, o filme almeja aproximar-se do estatuto de épico de época (passa-se num flashback durante a revolução francesa), apesar das artes marciais e da besta, e tudo o que se apresenta no ecrã se adequa ao contar da história. Recorre-se com alguma frequência a imagens compostas digitalmente, com resultados que nem sempre são satisfatórios. Algumas cenas de tensão podem sofrer um pouco com isso, pelo menos aos olhos de quem presta demasiada atenção aos pormenores técnicos dos filmes, deixando de se concentrar com o que está a acontecer, para pensar no modo como foi filmado ou criado.


Sem preconceitos contra filmes de gênero (e este pertence a vários) e aceitando a componente "pulp" e fantasista, não há como não apreciar «Le Pacte des Loups». De outro modo é possível considerar que a violência é extremamente gratuita (e “obscena”), como Rob White, na Sight and Sound de Outubro de 2001.



Ficha Técnica

título original:Le Pacte des Loups
gênero:Terror
duração:2 hr 22 min
ano de lançamento: 2001
estúdio: Le Studio Canal+ / TF1 Film Productions / Davis Films / David Films / Eskwad / Natexis Banques Populaires Images / Studio Images Soficas
distribuidora: Universal Focus
direção: Christophe Gans
roteiro: Stéphane Cabel e Christophe Gans
produção: Richard Grandpierre e Samuel Hadida
música: Joseph LoDuca
fotografia: Dan Laustsen
direção de arte: François Decaux e Thierry François
figurino: Dominique Borg
edição: Xavier Loutreuil, Sébastian Prangère e David Wu

Premiações
CÉSAR
Indicações
Melhor Figurino
Melhor Trilha Sonora
Melhor Cenografia
Melhor Som

Curiosidades

- Este é o 7º de 10 filmes em que Vincent Cassel e Monica Bellucci atuam juntos. Os demais foram L'Appartement(1996), Come Mi Vuoi (1997), Dobermann (1997), Compromis (1998), Le Plaisir (et ses Petits Tracas) (1998),Méditerranées (1999), Irreversível (2002), Agentes Secretos (2004) e Sheitan (2006);

- Foi exibido no Festival do Rio de 2001, na mostra Foco França.

Cenas do filme