Crepúsculo dos deuses (Sunset Boulevard)

sexta-feira, 17 de junho de 2011

*Film noir é um estilo de filme primariamente associado a filmes policiais, que retrata seus personagens principais num mundo cínico e antipático. O Film noir é derivado dos romances de suspense da época da Grande Depressão (muitos filmes noir foram adaptados de romances policiais do período), e do estilo visual dos filmes de terror da década de 1930. Os primeiros Films noirs apareceram no começo da década de 1940. Os "Noirs" foram historicamente filmados em preto-e-branco e eram caracterizados pelo alto contraste, com raízes na cinematografia característica do expressionismo alemão.
O termo film noir (do francês, filme preto) foi atribuído pela primeira vez a um filme pelo crítico francês Nino Frank em 1946. O termo era desconhecido dos diretores e atores enquanto eles criavam os films noirs clássicos. A expressão foi definida posteriormente por historiadores do cinema e críticos. Muitos dos criadores de film noir revelaram mais tarde que não sabiam, naquela época, que haviam criado um tipo distinto de filme.
*Fonte: Wikipédia
Abaixo um artigo que escrevi sobre um filme que gosto muito do cinema noir: Crepúsculo dos Deuses.


Crepúsculo dos deuses: Esquecimento e insanidade
Crepúsculo dos deuses, co-escrito e dirigido por Billy Wilder é lançado no ano de 1950. O filme em preto-e-branco se inicia com um ângulo não-convencional: na tela estão simultaneamente: um corpo em uma piscina e os fotógrafos que registravam a cena. Joe Gillisinterpretado por William Holden, um defunto-narrador, conta, em flashback, seus últimos seis meses de vida, mostra os bastidores do cinema hollywoodiano e como e porque fora parar naquela piscina.

Com a narração em voz off , o filme faz uma crítica metalinguística   ao cinema de Hollywood, de estrelas decadentes à jovens em busca do estrelato. Joe é um argumentista desempregado que ainda tenta emplacar algum de seus roteiros nos conceituados estúdios Paramount. Criticado pela jovem revisora e aspirante a roteirista, Betty Schaefer, interpretada por Nancy Olson, ele tem mais uma de suas histórias recusadas.

Em meio a dívidas crescentes, o protagonista se vê prestes a perder seu carro exigido como pagamento de seu aluguel atrasado, depois de ser perseguido pelos cobradores, ele para acidentalmente em uma mansão na Sunset Boulevar, Hollywood. Pensando tratar-se de uma propriedade abandonada, ele guarda seu carro numa das garagens e adentra o lugar sendo surpreendido por uma voz, que o manda entrar, ele avista a dona daquelas palavras (Glória Swanson) e desconfiado direciona-se até a porta.

Recebido pelo mordomo Max, (que mais tarde descobriremos que é algo mais eu isso), vivido por Erich von Stroheim, Joe é orientado para entrar e encaminhar-se até o quarto da dona da casa sem receber maiores explicações. Descobre então que foi confundido e trata de explicar-se.  A senhora  o manda embora de sua casa. Ao fazer isso é reconhecida como sendo Norma Desmond uma atriz que já fora muito famosa na época do cinema mudo e que estava esquecida pelo cinema e público. O protagonista identifica-se como roteirista e Norma mostra um roteiro original, escrito por ela chamado “Salomé”, projeto para retornar as telas triunfantemente na concepção da própria, no qual pede a ajuda de Joe para ser roteirista.

A proposta é tentadora e Joe acaba por ceder, hospeda-se temporariamente num quarto acima da garagem. Os dias passam e Norma o prende cada vez mais em sua mansão, que reflete sua personalidade egocêntrica, cada parte da casa tem tanto dela quanto cada parte de seu corpo. A relação profissional deles aos poucos vai se transformando em outra coisa, a arrogante Norma torna-se cada vez mais obsessiva e passional. Joe apesar de contra a sua vontade se deixa manipular.

Numa noite em que consegue “escapar” da casa ele encontra Betty, agora namorada de um amigo seu, o flerte ocorre. Convidado pelo amigo para ficar alguns dias em sua casa, Joe é surpreendido com a notícia de que Norma tentara se matar, ele desiste de sair da mansão, mas passa a se encontrar com Betty para escrever a “história de amor sem nome”e recebe a proposta de fugir com ela. Enquanto Norma acha que seu roteiro será em breve transformado em filme e terá seu tão esperado retorno.

A atriz decadente percebe as noites que Joe passa fora de casa, começa a interceptar seus telefonemas e torna-se cada vez mais paranóica. 

O filme encaminha-se para o desfeche final, revelações feitas, reviravoltas e a personalidade duvidosa de Joe o levam a ser assassinado, fazendo com que o flashback termine. Apoiada por Max, também obcecado por ela, Norma estrela sua última cena totalmente fora de si, num mundo imaginário do qual ela já fez parte e que se recusa a deixar no passado, pronta para o “close up”, como ela mesma diz. Policiais, repórteres e fotógrafos deixam seus papéis para serem meros figurantes diante da loucura da estrela decadente.

O filme mantém sempre um tom obscuro. As cenas geralmente são à noite ou em interiores sombrios, típicas do cinema noir, mas mesmo quando as cenas ocorrem durante o dia, elas vem carregadas de tenebrosidade. O filme é narrado em primeira pessoa, e se Joe que é alvo da obsessão de Norma “aceita” isso em silêncio para ela, na narração ele descarrega seus comentários ácidos a respeito das situações, chegando as vezes ao cômico, outras ao humor negro.

Assassinato ou algum outro crime é o enredo principal dos filmes noirs, porém em “Crepúsculo dos deuses” o espectador chega em alguns momentos a esquecer que quem conta a história é um defunto, tal o grau de envolvimento com o enredo. Os atores principais estão presentes na maioria das cenas, e a trilha sonora conduz as emoções de quem assiste, o filme consegue amarrar bem as cenas sem se tornar cansativo ou maçante. O crime é praticamente ofuscado, lembrando-se apenas no final quando acaba o flash back. O protagonista se vê cada vez mais envolvido com aquela ex-atriz que vive interpretando mesmo com as pessoas do seu dia-a-dia e que se resumiam a Joe e o mordomo.
O senso de fatalismo está presente em Norma, onde verifica-se a presença da morte em vários instantes, como na morte de seu macaco, na tentativa de suicídio ou no assassinato que ocorre em sua piscina. Obcecada por Joe, que torna-se praticamente um brinquedo em suas mãos, ela revela o extremo da passionalidade quando este ameaça “soltar-se” das amarras que o prendem. O protagonista, nada romântico, se deixa manejar por Norma em troca de boa vida e dinheiro.
Crepúsculo dos deuses é um filme que fala sobre o cinema, alguns de seus personagens são reais como o diretor Cecil B. Demille que representa a si mesmo, assim como também é real a forma cruel como os artistas são esquecidos, sempre há uma nova “safra” e os que não se adaptam, não se destacam, são passados para trás. Norma não se adaptou ao cinema falado: “falam, falam, falam” como ela diz. Já o protagonista não se destaca, produzindo apenas roteiros medianos que renderam apenas filmes “B”.

Criticado por uns, aplaudido por outros na época, o fato é que “Crepúsculo dos deuses” mexe na “ferida” do cinema hollywoodiano, o fracasso e esquecimento de seus outrora astros e estrelas e a forma cruel como o cinema descarta as pessoas. Insanamente o filme termina com mais metalinguagem: Norma, no papel de Salomé, entre fotógrafos e policiais, em sua última cena, desce as escadas teatralmente, gesticulando com as mãos como quem convida o espectador a se perder de si e juntar-se a ela em sua loucura.
Marília Domingues é graduanda do curso de Comunicação Social Habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba.

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