Nas suas veias*

quarta-feira, 15 de junho de 2011


Conheci a música de Sabrina Samn há alguns anos, na época em que "Realidade Freak Show" se encaixava na minha realidade. Adolescente inconsequente que adota qualquer música de revolta como hino. Mas Sabrina provou ser muito mais que isso. Aagora ela está com um CD novo (nem tão novo) mais maduro, mas sem deixar de lado a crítica e a pegada rock característica impossível de não ser reconhecida.

Realidade Freakshow:
Sabrina Sanm lança ‘Voz No Escuro’

Seguindo a linha que pauta sua trajetória, em busca da fusão entre a música pesada e o pop, a cantora Sabrina Sanm volta à carga com “Voz No Escuro”. Mostrando amadurecimento, Sabrina desvia um pouco o olhar sobre si própria para escancarar as idas e vindas das relações humanas, expondo mazelas e virtudes do nosso dia-a-dia. Calejada pelas agruras do underground, solta o grito questionador por si só, como bem reza a cartilha do rock. Só que o escuro a que ela se refere no título já não é tão intenso, e a voz, antes gritada, rocker por definição, ganha uma rebuscada lapidação que flerta com novos caminhos. O aprendizado nunca termina, mas o processo de maturação é latente em “Voz No Escuro”. O disco foi concluído no início de 2009 e contou com as guitarras de Renato Pagliacci, o baixo de Patrick Laplan (Los Hermanos, Biquíni Cavadão), entre outros convidados.

Renato Pagliacci divide com Sabrina a autoria das 11 faixas, que dão um passo largo rumo ao pop no seu conceito mais básico: o de cativar o ouvinte sem fazer muito esforço. O caminho já vem sendo trilhado desde o auto intitulado álbum de estreia, do qual você já deve conhecer faixas como “Realidade Freak Show” e “Dessa Vez”, que tocaram nas rádios e tiveram clipes estrelando as programações dos principais programas especializados. “Não Vou Parar” foi outra que circulou bem, sobretudo na internet, onde o MySpace da moça já bateu as 130 mil audições. É lá que “Superstar”, que antecede “Voz No Escuro”, já foi escutada umas 20 mil vezes e chegou até à programação de algumas rádios.

A música puxa o disco tirando sarro das celebridades fake que têm invadido a cultura brasileira e mundial nos últimos tempos. Nela Sabrina abusa de um a voz debochada até então desconhecida. O som é pesado, mas com uma levada pop, menos veloz e que gruda no ouvido logo de cara. A moça também investe na ousadia em “Nas Suas Veias”, faixa de contornos dramáticos em que testa – com sucesso – o alcance de sua voz. Talvez nem ela própria saiba onde seu gogó privilegiado pode chegar e a bela performance nos versos “No grão de areia / Que você finge não ver / Nas suas veias / No seu ar” ainda está longe de ser o limite. Não por acaso a música foi escolhida para ganhar o primeiro videoclipe do CD.

Em “Bibelô” Sabrina diz não ter sido “formatada pra agradar”, mas, longe da personagem ela mostra exatamente o contrário.

Poucos artistas conseguem reunir num único trabalho composições que cativam o ouvinte logo de primeira, seja pela melodia, pelos arranjos ou nos vocais de timbre específico. Sabrina Sanm executa, em “Voz No Escuro”, um punhado de boas músicas que dificilmente deixarão a cabeça do ouvinte em paz – e isso é ótimo.

Renato também é o responsável pela esmerada produção do CD, num trabalho que ajuda a realçar algumas músicas que têm uma rara vocação para o pop. É o caso de “Porquê do Porquê”, que já tem no DNA o refrão facilmente cantarolável, numa levada minimalista realçada por barulhinhos, sussurros e outras artimanhas de estúdio. O peso herdado do nu-metal americano, aqui, ganha ares que poderiam mesmo ter salvado o gênero do desgaste. “No Seu Cenário” é outra apegada a levadas marcadas que devem fazer o público se divertir aos pulos no meio de um show, embora carregada de um tom sinistro.

Sabrina Sanm tem o rock correndo nas veias – cortesia de referências que vão de Metallica a Nirvana -, mas também sabe o valor de uma boa balada, artimanha utilizada por dez entre dez bandas de hard rock. É o caso de “Até Quando Respirar”, mais uma em que deixa a voz solta em busca do inesperado, numa letra que desafia o autoconhecimento de cada um, de cada maneira. Outra é “Medo Meu”, onde um check up nos sentimentos mais íntimos é pautado pela intensidade exigida por músicas que começam quase acústicas e ganham contornos de drama e emoção, sem se valer de disfarces ou soar piegas. A evolução das guitarras, pesadas a cada verso, sem sufocar os vocais densos, é de impressionar. Outro mérito da boa produção de Renato Pagliacci.

A realidade bem retratada por Sabrina só sai de cena na bela “ Em Algum Lugar ”, uma fábula fantasiosa que em poucos minutos é convertida num rock visceral, com os mesmos ingredientes que cativam sem muito esforço. Sim, é preciso não parar de sonhar. Assim como no álbum anterior, “Voz No Escuro” guarda no final uma faixa com as letras em inglês. É “Tell Me”, pesada e com um refrão poderoso, que soa como a cereja do bolo em um álbum bem alinhavado e que dá trela à auspiciosa estreia. Se o Brasil é o país das cantoras, Sabrina Sanm emerge do underground com a manha de fazer rock pesado, sim, mas de contornos bem palatáveis.


Marcos Bragatto, fevereiro de 2010



 

Contatos:
Myspace: http://www.myspace.com/sabrinasanm
Orkut: http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=2002048
Site: Site oficial: http://www.sabrinasanm.com
Download: Voz no Escuro



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